Acabei de pedir comida japonesa e me causou uma enjoo infeliz, acho até que ela é inocente, o que tem me afligido é uma maresia permanente, o dia de hoje foi tão difícil  que realmente não sei como não tive que me juntar com uma vassoura e pá, mas a gente sempre tenta levantar a cabeça e esboçar algo menos auto-piedoso, fica melhor, já é difícil olhar no espelho imagine encarar um sorriso amarelo de “é meu bem não deu em nada”, por isso continuo por aqui, não é desejo de viver, é fraqueza em parar com tudo, todos os dias penso em como seria se eu parasse com tudo, se a dor sumiria, assim, se ao invés de levantar pela manhã ir escovar os dentes e ligar a cafeteira e ação pós ação fosse preenchendo meu dia, porque se você reparar é assim que os dias são feitos, passo após passo, eu vivo pensando nisso, e se eu me recusar, se nem mesmo sair da cama, se não fizer o café, não abrir as janelas, não ler os e-mails, não atender o portão, não juntar as bagunças da sala, se eu simplesmente não vivesse por um dia, e caso desse certo, e se eu repetisse isso todos os dias, será que eu sumiria da existência, tal como permaneço nela por dar sequência às minhas obrigações diárias, acho que pode dar certo, um tipo de suicídio sem morte ou melhor, morte sem suicídio. Deve ser o que chamam de morte em vida. Às vezes sinto falta de morrer mais rápido, porque venho morrendo aos poucos desde que tudo isso começou e tem me feito tão mal que se eu pudesse morreria de uma vez, mas veja bem, deixe-me explicar, não é morte de caixão, é morte de situação, queria amanhecer um dia completamente zerada, sem essa bagagem tão dolorida que tenho no momento, todo meu coração partido, toda angústia e remédios para dormir, só um desejo profundo por um pouco de paz, mas eu sei que você deve estar pensando que ninguém tem paz nesse mundo, por que eu haveria de ter, não ter paz eu até aguento, o duro é o inferno domiciliar. O diabo queima, a depressão queima, a raiva queima, minha casa mais parece uma fogueira, houve um tempo em que os pássaros cantavam por aqui. Hoje eu abrigo morcegos.

Entenda, não sou dramática, detesto dramas, mas é que está tão difícil que eu fico pensando nessas bobagens na esperança de alguma delas fazer algum sentido e vai que dá certo e eu posso me libertar dessa prisão. Meu coração virou um hospício.